Monday, June 11, 2007

até que a cidade surja

Vem

por sobre a envergadura íntima dos braços quentes.

Quero te dizer, talvez,

algo mais que um suspiro, ou que o sono,

algo verdadeiro e solene

no ar exausto dos corpos. Da noite em que não ousamos negar a morte,

o momento de deslizarmos até a manhã e a claridade.


O momento em que a cidade surge.


Quem de nós saberia dizer o som do próximo passo?,

se o conforto se ensaia incerto por dentro da carne,

o abismo se desenha branco por sobre o tempo,

que podemos dizer por ora, que não nomes vagos,

lugares esvaziados, canções?

A vertigem brota na delícia da espera,

espera rude da escrita, lento organizar-se dos sons e cheiros que ficaram.

Quero te dizer algo puramente sonoro,

como o ímpeto da primeira canção dos dias inaugurais,

para que deslizemos até a grande claridade, talvez.

Te chamo – Vem,

pelos pêlos e na temperatura dos braços,

deitar-se.

Friday, June 01, 2007

reminiscências, I

A casa musicalmente vazia me absorve os dedos

como aos farelos sobre a mesa.

Também o vinho.

Olhos recortados na superfície das janelas,

maçanetas me agridem a memória.

O cheiro permanecido dos quartos,

pertencimento diluído quase por completo.

Estrangeiro

de voz desfeita inteira pelo caminho,

sempre a vontade das terras primeiras, na língua e no tato.

A avó e o irmão,

poema caído:

- Vou-me por sob as árvores que foram de minha mãe

e deixo as semanas, novamente.