Thursday, April 12, 2007

do amor pela vertigem

Não há nada a dizer sobre o espaço que agora me circunda.
Apenas a vontade de sê-lo, por um instante,
é o que me move em direção à linha do meu próprio e único

[horizonte,
de quem bem sei as cores e enlevos,
de quem escuto há tempos o canto
às vezes frio, outras vezes forte,
mas sempre sensação de vôo, ou de mergulho.

De meus pés, o caminho que se traça é de braços abertos.
Digo que vou e sigo, pelo movimento que me atravessa,
pelas paisagens que me moldam a retina, diariamente.

O sol me fortalece a pureza das vontades, todas as manhãs.
Digo que vou
e canto a beleza de qualquer coisa,
louvo a existência dos sons,
como num exercício apaixonado de embriaguez,
o sangue todo ofegante na sempre urgência da vida.

Faço meu horizonte fundir-se à história
e toda luz não me é suficiente para traduzir o tamanho que pode
[invadir o corpo.
O espaço que me circunda é verde,
e tudo que agora posso verdadeiramente dizer é que quero estar
[dentro dele.

Com os olhos, guardo o momento de retorno às primeiras terras,
a vontade e a direção traçadas desde o nascimento.
Poderão dizer que sonho; digo que sinto.
Conheço bem as cores da nostalgia,
sei o gosto matinal do pão que não se repete
mas também sei que há em mim a presença de um lugar
em que soe a brancura mais plena e virgem
e por onde se possa correr de pés descalços,
antes da fala, dentro do som,
e onde todo o silêncio do mundo se faça confortavelmente possível.
Sei que há em mim o último amor pela vertigem.
Sinto-o ecoar pelos poros, fazer tremer a nuca,
e por isso me ponho novamente a dizer que vou.
Digo que sou, e vou
por onde me leve o som da verdade de minha vontade.

Digo, e sigo o som como a um rio.
No verso oculto das faces da carne, pressinto a vibração de meu
[horizonte.
Meu único e verdadeiro horizonte, por inteiro,
como um outro violeta último,
como o dia primeiro de toda a existência.